Os Três Hs Fundamentais para Lidar com o Ego

Hoje quero partilhar contigo a formula dos três Hs que uso diariamente para lidar com o Ego, e que me ajuda no meu dia-a-dia a trazer leveza, consciência e compaixão para a minha vida.

Talvez te estejas a perguntar neste momento, porque preciso de ter uma formula para lidar com o Ego? Porque como costumo ensinar aos meus alunos no Curso de Introdução à Meditação, um dos obstáculos ao estado meditativo, e consequente expansão da consciência e crescimento, é a nossa identificação inconsciente com o nosso Ego.

Mas antes de avançarmos para a formula dos 3 Hs fundamentais, quero falar-te sobre o Ego e dismistificar algumas ideias New Age.

Ego: Amigo ou Inimigo?

Nem uma coisa nem outra, não se trata de bem ou mal, mas sim de consciência. Como tudo no universo, o ego tem uma função, um propósito. Aqui a questão é o esquecimento desse propósito. Ou seja, como escrevi anteriormente, o desafio com o ego é a identificação inconsciente.

Na jornada da vida e no processo de crescimento e evolução, a consciência passa por diferentes etapas de maturação. Diferentes tradições falam do número sete. Sete temas, ou níveis de consciência. Um dos sistemas mais conhecidos são os setes chakras do sistema Hindu. 

O ego é a qualidade da energia do terceiro chakra, conhecido por plexo solar ou manipura. Esta energia fala-nos sobre a importância de nos honrarmos a nós próprios. Sobre nos respeitarmos a nós e aos nossos limites. 

É uma energia com qualidade masculina e expansiva, do fazer e expressar o teu lugar no mundo. Algo que é um direito teu de nascença! Um ego saudável, maduro e consciente é fundamental para a tua saúde mental

É porque tens um ego, que tens a capacidade de experimentar e de te experimentares (que é o grande porquê da existência) e com isso seres capaz de te auto-conheceres. 

É porque tens um ego, que és capaz de viver em sociedade. O teu ego é a tua noção de identidade, é aquilo a que chamas de Eu. Ele é formado pelo teu corpo, pelas tuas memórias, pelas tuas crenças. Ele foi formado essencialmente pela tua experiência enquanto criança, por modelação e imitação do que viveste e ouvias externamente, e também por aquilo que o mundo externo te devolvia e te fazia sentir. Contudo ele não é quem és na tua essência, não é o teu verdadeiro centro, é um falso centro

A energia do ego, é uma energia muito ligada à matéria, e tem uma qualidade de necessidade de sobrevivência. Por isso um ego não individualizado e não consciente, vibra essencialmente em necessidade de status e hierarquia. Está sempre numa das polaridades superior ou inferior. Essa é a sua essência. Não há que julgar, porque no universo não existe bom nem mau, essa é mais uma construção cultural. Há que observar, testemunhar, tomar consciência.

Então se o ego é uma construção, quer dizer que ele não é real, e por isso é mutável. Quer dizer que aquilo que dizes ser Eu num dia é uma coisa, noutro dia é outra. Quer dizer que muitas das vozes interiores limitadoras, castradoras, e até más que tens dentro de ti não passam de repetições de ecos, de experiências, de padrões que viveste nos primeiros anos da tua vida. 

Se tudo isto é uma constante repetição do passado, então significa que não vives o momento presente, não vives o aqui e agora, e por isso como expliquei no início deste post, um obstáculo ao estado meditativo.

Transcendência do ego

Então a ideia não é aniquilar o ego, mas sim transcendê-lo para que experimentes quem és na realidade, na essência, um ser criador. Quando te conectas com esta verdade, entendes que tens o poder de co-criar a tua realidade, e de seres o Eu que queres ser. Lembrando que esse Eu está sempre em construção e mutação, e que é o apego às crenças que te limitam e prendem numa determinada realidade. 

A grande dificuldade com a transcendência do ego prende-se com as feridas do ego, com a imaturidade do ego, que se expressa depois em egos inflamados ou em egos inferiorizados. A tomada de consciência deste movimentos do ego é muito interessante e facilmente observável nos nossos julgamentos e projeções em relação aos outros. 

A verdade é que só um ego consciente e maduro se pode transcender, e por isso é muito importante trabalhar as feridas e a maturidade do ego, algo que se trabalha em terapia (sabe mais aqui).

Este processo de nos transcendermos leva o seu tempo, pois estamos todos muito identificados, diria até viciados, nas emoções e pensamentos que constantemente ruminamos na nossa mente. 

E é aqui que entra a minha fórmula dos três Hs para lidar com o ego sempre que me apercebo que estou num “jogo de ego”. Ou seja sempre que vejo que estou num jogo de superioridade vs inferioridade; sempre que observo que estou a fazer um julgamento; sempre que observo que estou identificada com uma identidade que me limita e que está a repetir padrões. 

1 – Honestidade

O primeiro H na hora de lidar com o ego é sem dúvida a honestidade. Sem uma grande honestidade interna não há como transcendermos o ego. A maior parte das pessoas tem a sua atenção virada para fora. Sempre num fenómeno de projecção do interior para o exterior.

Fica então o meu convite para que comeces a levar mais a tua atenção para dentro, e que comeces a ser bem honesta com tudo o que tens dentro de ti, quer consideres “bom” ou quer consideres “mau”. Só quando souberes o que realmente tens aí dentro, vais ser capaz de te transcender e transformar. Todos nós somos luz e sombra. 

2 – Humildade

Confesso que tenho alguma reticência em falar sobre este H, porque pode ser mal interpretado. Que fique claro que não falo aqui de uma humildade de auto-repressão ou subjugação. Infelizmente ainda estamos muito castrados pelo conceito de humildade difundido pela religião. 

A humildade que falo aqui, é de uma humildade em reconhecer o próprio ego. Em reconhecer para nós mesmas que já estamos a entrar no jogo do ego, um jogo de poder, de superioridade vs inferioridade. 

Mais uma vez, trata-se de tomada de consciência. De ser humilde no sentido de reconhecer que tenho isso dentro mim, e que não faz mal. Faz parte da minha condição humana actual. 

Ser humilde é ser capaz de reconhecer isso com compaixão. Quando o faço, o meu coração abra-se e passo a ter compaixão pela condição humana em si, e fica muito mais fácil perdoar-me a mim e aos outros, e aos seus próprios egos. Pois sei que a “agenda” do ego é a sobrevivência, e que o ego faz parte da condição humana.

3 – Humor

Este é o meu H preferido, porque confere à minha vida uma grande leveza. Sem dúvida que uma das melhores maneiras de ligar com o ego, não só com o meu mas também com o dos outros, é o humor. 

É dizer a mim própria sempre que me dou conta de algum movimento de superioridade ou inferioridade do meu ego “lá estás tu” e sorrir. Ou sempre que observo que estou identificada com uma crença ou emoção limitadora sorrir e dizer “cá estás tu, eu estou a ver-te”. Mas sem censura ou auto-repressão. Reconhecendo e até reverenciando a sua natureza, com amor e compaixão. 

Em geral as pessoas têm a ideia que o processo de despertar da consciência é algo exuberante e maravilhoso, como num filme de hollywood. Mas isso não corresponde à realidade. 

O despertar da consciência é algo bem banal e que vai acontecendo diariamente em pequenas coisas. São insights que vão acontecendo naturalmente e que apenas temos de estar atentos. Shots de samadhi como lhes chamo. 

A meditação é uma ferramenta na minha opinião fundamental para todo este processo, e por isso se quiseres aprofundar este tema fica a saber mais aqui

Agora gostava de saber mais sobre ti. Como lidas com o teu ego? Sentes que tens um ego, uma personalidade que não te serve? 

 

2 Comment(s)
  • Tânia Fernandes Posted Outubro 5, 2019 11:55 pm

    Artigo muito interessante…creio que devia ser algo mais debatido nas escolas para que se tornasse numa temática acessivel a todos. Pois fomos educados na base da dualidade e ela é proveniente do Ego… É nesse sentido que o Ego está presente em mim dou por mim a julgar algo com um gosto ou não gosto…mas há que sim sermos conscientes da presença do Ego… E algo que achei curioso foi o h de humor…. temos que encarar estas situações com leveza.

    • Raquel Matos Posted Outubro 8, 2019 1:02 pm

      Grata pelo teu comentário! Concordo que se devia ensinar sobre isto nas escolas, e acredito que lá chegaremos 😉 Beijinho

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