O pico do Outono e a noite das bruxas
Hoje celebramos o pico do Outono. Estamos precisamente a meio do equinócio de Outono e do solstício de Inverno. Hoje é a noite em que se celebra o Samhain, o fim de ano Celta. É a noite em que se honram e celebram os antepassados, a noite em que o véu que separa os mundos (visível e invisível) está mais ténue. Para a maior parte, é a noite das bruxas, o Halloween.
Sendo noite de fim-de-ano e pico de Outono, é dia para ritualizar e libertar. Limpar com a vassoura da bruxa, tudo o que não serve para a nossa evolução e expansão pessoal, e espiritual. Limpar e afastar tudo o que não permite que a nossa luz interior brilhe.
No Samhain o Deus Sol morre, as noites estão cada vez maiores e a natureza prepara-se para o sono do inverno. A Deusa Terra está de luto, as plantas estão a morrer e o animais preparam-se para hibernar. Estamos a entrar na fase mais fria e escura da Roda do Ano. A morte e a sombra estão no ar, é a natureza a convidar-nos a mergulhar na alquimia do caldeirão. A escuridão da morte, do útero, do vazio, essenciais para a transformação e renascimento.
No mergulho interior que é a jornada interna, enfrentamos os dragões da alma, que nada mais são do que aquelas partes de nós que por qualquer razão tivemos de negar e reprimir, porque não eram desejáveis. Nesta altura, em que os véus entre os mundos estão mais finos, resgatamos a nossa sombra, e trilhamos o caminho rumo á expansão da consciência.
Neste resgatar da sombra, encontramos luz. Nesses cantos escuros muitas vezes encontramos talentos e forças que são verdadeiros dons. E isto é verdade especialmente para as mulheres, pois ainda guardamos no nosso ADN, no nosso inconsciente pessoal e colectivo, as dores das mulheres que foram condenadas à fogueira.
Estima-se que foram entre cem mil a oito milhões, as mulheres que foram condenadas à morte na fogueira, o “holocausto das mulheres” como alguns lhe chamam. Qualquer mulher que chamasse a atenção, com alguma aptidão invulgar, que fosse notada, invejada ou temida, era imediatamente acusada de bruxa.
Mulheres independentes, com posses, excêntricas, com autoridade ou conhecimento, mulheres visionárias, parteiras ou conhecedoras das ervas e dos mistérios da vida, eram sujeitas a tortura e condenadas à morte. Para sobreviver era necessário não dar nas vistas, não se destacar, pois só as mulheres invisíveis permaneciam vivas. Uma mulher empoderada é uma mulher indomável, e para o patriarcado que vive da hierarquia, da separação e do domínio, o medo era, e é, o modus operandi.
Nesta noite convido-vos a mergulhar no mundo invisível, a olhar e resgatar as vossas sombras. A queimar na fogueira das bruxas aquelas crenças e formatações que não vos pertencem, que não vibram na frequência do vosso coração e que bloqueiam a vossa luz. Convido-vos também a reflectir sobre a vossa ancestralidade, e de que maneira medos e crenças dos vossos antepassados ainda vivem no vosso ADN e de que maneira podem honrar as suas vidas.
Convido-vos a invocar a/o anciã/ancião interior, aquela parte da psique que está conectado com a sabedoria da vida, aquele que sabe que não há prazer sem dor, ordem sem desordem. Aquela parte de nós que aceita a vida tal e qual como é, aquele que sabe que a fonte do amor está dentro de cada um. Hoje, celebramos a sabedoria, o conhecimento, a independência, a coragem e a visão de todos aqueles que ousaram, e ousam, deixar brilhar a sua luz. Nesta noite, honramos o ciclo de vida – morte – renascimento.
A todos desejo um feliz e abençoado Samhain.
Walking, I am listening to a deeper way. Suddenly all my ancestors are behind me. Be still, they say. Watch and listen. You are the result of the love of thousands.
Linda Hogan
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